September 15, 2013

Na verdade

Não faz sentido manter perto de nós pessoas com quem não partilharíamos uma cadeira de baloiço num alpendre de madeira.

September 03, 2013

Reflexões da espreguiçadeira

As pessoas egoístas e egocêntricas têm tanto medo de precisar de amor que mesmo que os sons gerem ecos, ouvem sempre apenas o silêncio que se impõem.

August 28, 2013

Valério Romào

O que somos nos outros aparece mais no que partilham ou quando o não fazem?

August 06, 2013

as férias dos outros

Cruzo-me quase diariamente, perto de casa, ora pela manhã, ora pela tarde, com um homem de 70 e muitos anos, a passear o seu cão, um rafeirote que pouco mais tem de bonito que o ser cão. Nunca o vejo com ninguém e trocamos olhares de reconhecimento há uns anos. Já experimentei cumprimentá-lo, mas não resultou. Ele só me olha fixamente, apercebendo-se silencioso da minha presença.

Não que creia que estar só, assim no mais absoluto e redondo do conceito, seja um mau modo de perdurar, mas este homem, sem parecer necessariamente triste, tem, como de resto o cão, o ar mais solitário que já vi no rosto e nas maneiras de alguém. Imagino-os muitas vezes em casa, no prédio fronteiro ao meu, cada um na sua vida, mas sempre por perto, ambos conhecedores das horas rigorosas dos passeios, da comida, dos noticiários. Pouca conversa e um oceano de comunicação.

Hoje, quando saí para trabalhar, saía também ele, com mais três pessoas de tempos de mundo próximos do dele, sem o cão, com todo o ar de irem para a praia ou, sei lá, almoçar a Óbidos, e o meu vizinho, rosto menos vazio que o dos outros dias, quase parecia sorrir.

July 21, 2013

Subiinhar udo

Foi tudo por água abaixo. Ficou este mundo todo à volta. Imagens, sons, tempo. Dias e dias e dias. Manhãs, tardes, noites. Silêncios  e lugares-comuns. Vazios. Complicadíssima a teia. Escrever, publicar. Ler, sublinhar. Caminhar porque se tem de seguir. Proibido esperar. Sorrir, fazer por aorrir. Ter horas a mais. Nunca sonhar. Seguir, seguir, seguir. Na noite mais escura, no dia mais longo.  Nem ouvir a música que toca. Fazer de conta que o presente é que conta, que o passado morreu e o futuro a deus pertence. Deus? Zapping e flores que não saem da jarra, mas já todas mortas. As flores morrem sempre num instante, mesmo que fiquem na terra. Distância. Metros, quilómetros, anos-luz. Abraços e beijos sem nada dentro. Serenidades pré-fabricadas. Eat, sleep, repeat. Saber que piora, que piora sempre. Nem poder desistir. Como evitar as dores? Férias, trabalho. O comboio na paragem do autocarro. Já se sabe qual de nós faltou hoje ao rendez-vous. Toda a gente passou horas em que andou desencontrado? E as horas a seguir? Chegam os livros, as músicas, os filmes? Há um ponto a partir do qual? Podia haver esfoliação dos sentires, livrar-mo-nos das células mortas. E podia haver magia, pessoas especiais, amores eternos, partos sem dor, manhãs lentas, mimos a rodo, entardeceres mornos todos os dias. Podia nem haver memória.

And finally the lark had a solution
She decided to bury her father in the back of her own head.
And this was the beginning of memory.
Because before this no one could remember a thing.
They were just constantly flying in circles.
Constantly flying in huge circles.