September 06, 2006

quase nunca sei o nome das árvores

Almoço sempre que posso numa pequena esplanada que nem por isso tem algo de especial. A comida não é muito boa, as moscas incomodam de vez em quando e até com uma vespa insistente já tive de me haver. O serviço é feito daquela simpatia oferecida aos clientes habituais, com atenção aos desejos e respeito pela privacidade. Fica numa praça ampla e fresca, onde passa gente, mas não muita. Apenas a suficiente para nos apercebermos de algumas das características principais dos habitantes do bairro e dos passantes desse pedacito de Lisboa.

Por não estar em modo de indignado manifesto, não é sobre a falta de esplanadas aprazíveis que escrevo. É a sombra que me leva lá quase todos os dias. A sombra é dedicada por umas árvores muito altas e frondosas, com milhões de folhas de um verde que baloiça, o mais das vezes serenamente, a marcar o ritmo dos humores do vento. Será essa a sombra que me vai roubar o remanso lá para o meio do Outono, mas, por ora, é nela que alimento parte dos meus silêncios.

Ontem, corria uma aragem quente e ligeiramente mais forte que a do costume, daquelas que só sopram para nos dar a ilusão de o Verão não ser a mais impiedosa das estações do ano. Já tinha dado por finda a minha pausa e entrava no carro, estacionado de frente para a esplanada, quando reparei que todas as folhas haviam sido tomadas de um frenético tumulto e dançavam como se quisessem ganhar autonomia e gritar Ipirangas, prontas a abandonar a árvore e a fugir com o vento, torneando em volutas pelas aventuras que só o vento vive. Fiquei imóvel a observá-las, debaixo de um Sol inclemente mas frustrado. Suponho que foi um dos dias em que o regresso à secretária foi mais penoso.

10 comments:

margarete said...

:)


*

Aldina Duarte said...

Que o Outono chegue na hora certa e leve consigo todas as coisas sem vida!

Anonymous said...

o verão tem toda a vida da luz. o outono traz as folhas mortas.

vida e morte, parece que depende de quem olha ;)

por um fio said...

Convirá «aprender» alguns nomes de árvores, sobretudo daquelas com quem estamos mais frequentemente...
Quando me aproximo de alguma, gosto de a tratar pelo nome. Senão nunca conseguiria estabelecer aquela relação forte de proximidade e de cumplicidade. E uma árvore precisa disso! Nós também!

Anonymous said...

É importante pensar na Reforma Agrária, também. A Reforma Agrária está na ordem do dia em muitós sítios: Laos, Birmânia, Guatemala, Colômbia ou Turquemenistão para citar alguns exemplos.

Anonymous said...

não é preciso dar nomes às coisas para se criarem laços ;)

alices, marias, sandras, árvores, pássaros, seriam os mesmos sem os nomes.

e a barata até tem um nome giro e eu não quero criar laços com elas!

margarete said...

:)

Anonymous said...

sabes mais do que os nomes: sabes nomear-lhes as formas, os tons, os movimentos, as sensações que em ti despertam, e sabes comunicar-nos tudo isso ;)

Aldina Duarte said...

A propósito dalguns comentários nesta publicação, gostaria de sugerir a poesia da Sophia de Mello Breyner que tão bem define a importância do "Nome das Coisas".

menina alice said...

:) Obrigada.

As baratas não têm nomes giros, D.! E, com excepção da pouca-roupa, das esplanadas e do mar o Outono é bem melhor que o Verão.