March 09, 2007

depois é só acertar a pontaria

T. vive numa zona copiosamente frequentada por turistas e gente da noite, situada numa grande capital europeia que dá pelo nome de um tipo de leguminosa e que abeira um rio que começa num país quatro vezes maior ao que serve de covil administrativo. Mais para o fim da semana, mercê da central localização do seu tugúrio, começa a ser molestado por brados de noctívagos que, depois do jantar, se deixam estacionados debaixo das janelas de seu recanto.

Hoje, em jeito de desbafo, minuciava frente a um café esse triste fado e, ao descrever os métodos para debelar o incómodo, acaba por admitir que possui, ao lado do bidé (para quem desconheça, uma bacia oblonga destinada à lavagem das partes inferiores do tronco), um saquinho plástico com balões coloridos, que se destinam a ser cheios na torneira daquele acessório de higiene e arremessados aos prevaricadores da paz alheia.

Tudo obedece a um esquema muito preciso: numa primeira abordagem, T. dirige-se à janela e, o tão polidamente quanto lhe permitam os humores, solicita aos molestadores que se retirem, alegando o direito ao merecido descanso das tarefas do dia. Numa segunda fase, volta a repetir o aviso, acrescentando a húmida ameaça. Nos casos de persistência do ruído, dirige-se à casa-de-banho e começa, paulatinamente, a encher os balões com água. Persistindo a indecorosidade do excessivo nível de comunicação, regressa uma última vez à janela, atira os balões com água, deleita-se com os efeitos do contra-ataque e ameaça que a próxima investida ao seu sossego será retribuída com toda a água que conseguir fazer conter num balde. Se, no meio tempo que leva a encher os balões, os meliantes se retirarem ou silenciarem, deixa-os pousados no parapeito, em jeito de prevenção.

Afirma que nunca usou o balde.

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