March 03, 2007

do que um homem é capaz

Do que um homem é capaz
As coisas que ele faz
P'ra chegar aonde quer
É capaz de dar a vida
P'ra levar de vencida
Uma razão de viver

A vida é como uma estrada
Que vai sendo traçada
Sem nunca arrepiar caminho
E quem pensa estar parado
Vai no sentido errado
A caminhar sozinho

Vejo gente cuja vida
Vai sendo consumida
Por miragens de poder
Agarrados a alguns ossos
No meio dos destroços
Do que nunca vão fazer

Vão poluíndo o percurso
Co'as sobras do discurso
Que lhes serviu pr' abrir caminho
À custa das nossas utopias
Usurpam regalias
P'ra consumir sozinhos

Com políticas concretas
Impõem essas metas
Que nos entram casa dentro
Como a Trilateral
Co'a treta liberal
E as virtudes do centro

No lugar da consciência
A lei da concorrência
Pisando tudo p'lo caminho
P'ra castrar a juventude
Mascaram de virtude
O querer vencer sozinho

Ficam cínicos, brutais
Descendo cada vez mais
P'ra subir cada vez menos
Quanto mais o mal se expande
Mais acham que ser grande
É lixar os mais pequenos

Quem escolhe ser assim
Quando chegar ao fim
Vai ver que errou o seu caminho
Quando a vida é hipotecada
No fim não sobra nada
E acaba-se sozinho

Mesmo sendo os poderosos
Tão fracos e gulosos
Que precisam do poder
Mesmo havendo tanta gente
P'ra quem é indiferente
Passar a vida a morrer

Há princípios e valores
Há sonhos e há amores
Que sempre irão abrir caminho
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sozinho
E quem morrer abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sozinho

José Mário Branco (Resistir é vencer, 2004)



Vai bem com isto.

2 comments:

Aldina Duarte said...

Um dia quando for grande quero ser como o José Mário Branco:-))

Até sempre!

Menina Limão said...

que bom reencontrar este poema. fui transportada para os meus doces 16 anos, quando mo escreveram num papel entretanto perdido.