May 12, 2007

O Sr. Ernesto da leitaria tinha um livro de assentar

E acabava por não cobrar muitos dos os copos de ginjinha, de Magos ou dos outros acompanhamentos das longas horas que Vitorino e os amigos passavam por lá. Ele, o Vitorino, lembra-se de tudo, mas não conta tudo.

Vitorino cantou belíssimamente hoje à noite no Teatro da Trindade (o meu segundo preferido em Lisboa). A voz está poderosa e no auge e o estilo que sempre usou e, por vezes, podia soar a marca estudada, parece agora a mais cristalina das suas verdades. O alinhamento (em baixo) é perfeito para um recital (como preferiu chamá-lo, pela proximidade que em constância mantém com o público) de espelho retrovisor e, felizmente, não acaba com o Menina Estás à Janela, mas antes numa afirmação de convicção ideológica muito bonita e de oportuna coerência, mas sem panfletos. Falou na medida e altura certas.

Pessoalmente, não me custa afirmar que foi o melhor concerto que vi este ano e uma viagem a anos que gosto de recordar e dos quais ele faz parte. Os temas que cantou só podem ter sido escolhidos directamente do meu cérebro. Cantou muito da colaboração com Lobo Antunes (a ideal e personal favourite na música portuguesa). E só arriscou uma música - de que também gosto - desta última fase em que me mantive discretamente afastada do seu trabalho. Estou reconciliada (vai ganhar label e tudo!).


O alinhamento

Poema (instrumental)
Senhora Maria
Sul
Fado da Prostituta da Rua de Sto. António da Glória
Fado Alexandrino
Cantigas do Maio
Poema
Se tu és o meu amor
Indo eu por i abaixo
Rouxinol repenica o canto
INTERVALO (para quem quisesse beber um copo, falar mal dele ou ir embora)
Bolero de um coronel sensível que fez amor em Monsanto
Semeei salsa ao reguinho
Cantiga d' um marginal do séc. XIX
Laurinda
Bárbara Rosinha
Ana 2
Meu querido Corto Maltese
Adeus ó Serra da Lapa
Queda do Império
Tinta verde
Leitaria Garrett
ENCORE
Marcha de Alcântara (aqui seria o Negro fado, mas eu não gosto de marchas populares)
Rua do Quelhas (dedicado a Mafalda Arnauth e JP Simões e à causa da música portuguesa na rádio)
Menina estás à janela
Maria da Fonte
Vou-me embora, vou partir
A morte saíu à rua

Falta dizer que o palco fez desejar ardentemente a máquina fotográfica e uma autorização especial para poder andar por ali à vontade ou, em alternativa, uma objectiva que apanhasse aquilo tudo e disfarçasse a inexperiência da artista. Na pantalha ao fundo, predominaram a geografia pessoal - Alentejo e Lisboa - e as pessoas e as palavras que estão na música dele.

Saíu feliz e de punho erguido.

1 comment:

Mónica Lice said...

Gostei de ouvir o blog!:)