June 11, 2007

porque é que tens uma boca tão grande, avózinha?

Na dúvida - que é a condição que prevalece - age de uma de duas formas: ou desanima e lamenta-se do enorme fardo que carrega, ou desata a disparatar e lamenta-se do enorme fardo que carrega. Lamenta-se sempre. Chamemos-lhe Ana.

Quando a cumprimentamos de manhã, é difícil distinguir o bom-dia no meio do suspiro que exala de imediato. Escolhe sempre os aliados que estão dispostos a deturpar-lhe os sentidos e as ingenuidades. Eles, os aliados, retiram-lhe energia vital e toda a informação que querem. Às vezes, quando me parece que o descontrolo pode prejudicá-la seriamente (ou a mim), chamo-a e explico-lhe pacientemente que não pode deixar-se manipular, que mais vale estar calada e que, a falar, fale só daquilo que lhe traz certezas e em que acredita.

Tempos houve em que ela conseguia perceber que eu sabia do que falava. E houve tempos em que eu acreditava que a podia proteger. Nos dias que correm, engendrou um mecanismo que lhe esconde as fragilidades debaixo do mau-humor ou da crescente pose de vítima. Começou a acreditar no poder dos tons de voz mais elevados. Já tomou o caminho descendente e não me ouve de onde estou a fazer-lhe sinais.