July 18, 2007

A Carla, o Tó e a Céu

Eu tinha ido à copa comer qualquer coisa rápida para poder despachar o trabalho antes da consulta. Começaram as notícias da tarde. Chamas e noite misturavam-se, sinistras. O avião tinha feito aquaplanning a 180 km/h. Eu morro de medo do aquaplanning e nunca conduzi a 180 km/h. Entretanto, ela entrou. Vinha com o telemóvel ao ouvido, à espera que lhe atendessem a chamada.
- É a Carla, eles já chegaram?
- ...
- O Tó e a Céu?... Já chegaram?
- ...
- A Carla, irmã do Tó... sim? Está bem, eu aponto...
Sai da copa. A jornalista brasileira dava mais detalhes da tragédia. Familiares desesperados. Uma mãe tinha confirmado que os dois filhos adolescentes estavam no vôo. A Carla entra outra vez na copa, outra vez à espera que atendam o telemóvel - sempre o telemóvel do serviço, claro, porque raio havia de ligar do dela?
- Céu? É a Carla! Já chegaram?
- ...
- A tua prima deu-me o número... Sim, posso falar com ele?
- ...
- Mano!!! Já chegaste? Fizeste boa viagem?
- ...
- Foi a prima da Céu... Está bem, mas depois liga-me... Beijinhos.
Volta a sair. Na televisão, a pivot informa que a notícia do dia era a de um avião que se havia despenhado em São Paulo, como que a justificar que não se falasse de outra coisa. Um passageiro português e tudo. A Carla - que tinha voltado a sair da copa -, regressa e informa: - Era o meu irmão. Chegou hoje. Lua-de-mel, na Tunísia. Djerba.

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