Para além de annus um bocadinho horribilis, sobretudo no trabalho (pleonasmozinho, eu sei!), 2007 vai ter de ficar marcado na minha own personnal time line como o ano em que finalmente comecei a sentir e a preocupar-me de forma quase física com o peso absurdo do desperdício que todos criamos a todo o instante. Não passa por ter cuidados com o lixo que crio em casa, que isso acontece há vários anos (sou uma suburbana que separa), mas por pressentir a maldição que colocamos sobre as nossas cabeças só por sermos preguiçosos e mal-educados (este plural, obviamente, não é majestático, logo, não me inclui). Até tenho medo de começar a ler sobre o assunto e tornar-me um ser desagradável e inconveniente. Se bem que - isto agora voltando ao assunto do trabalho -, ser desagradável e inconveniente traz apensa a sua dose de prazer.
São uma assombrosa timidez e uma quase inultrapassável sobranceria (portanto, uma assombrosa timidez) que me impedem de distribuir raspanetes às pessoas que, na rua, no café, no cinema, nos transportes públicos, etc, contribuem para o aumento das proporções desta bola de esterco em que boiaremos não tarda. Em bom português, gebalhada merdosa e porcalhona. E não estou a defender um mundo asséptico, somente um que continue a existir, pelo menos enquanto o meu filho cá estiver. E foram a timidez e a sobranceria que me impediram de esbofetear (simbolicamente, por enquanto) uma quarentona beta que, ao chegar ao seu BMW 320D cinza rato metalizado, estacionado ao lado de dois contentores do lixo, se viu confrontada com publicidade nas escovas dos limpa pára-brisas. Não há ninguém que não se irrite com publicidade nas escovas dos limpa pára-brisas. Ninguém. Mas só os seres menores, apenas as criaturas de baixo recorte humano, agarram nos papéis e os deitam directamente para o chão.
Este post serve para deixar para a História que eu, plena de coragem e hirta de convicção, que acabara de estacionar o meu carro muito perto do daquela megera, congelei o movimento, parei de tirar as coisas do carro e fiquei a olhar fixa e despudoradamente enquanto ela fazia a merda toda que estava a fazer e que só parei de olhar quando ela entrou no carro, viu o papel que lhe havia escapado na outra escova e já não teve coragem de o mandar para o chão de o apanhar. Ou melhor, não teve coragem de o mandar logo para o chão, que eu sei que ela não ia deixar o flyer dois meses no porta-luvas do carro, como eu deixo no meu.
Depois soprei para dentro do tubo da minha 38mm, guardei-a no coldre e fui ao Sr. Manel comprar tangerinas.
São uma assombrosa timidez e uma quase inultrapassável sobranceria (portanto, uma assombrosa timidez) que me impedem de distribuir raspanetes às pessoas que, na rua, no café, no cinema, nos transportes públicos, etc, contribuem para o aumento das proporções desta bola de esterco em que boiaremos não tarda. Em bom português, gebalhada merdosa e porcalhona. E não estou a defender um mundo asséptico, somente um que continue a existir, pelo menos enquanto o meu filho cá estiver. E foram a timidez e a sobranceria que me impediram de esbofetear (simbolicamente, por enquanto) uma quarentona beta que, ao chegar ao seu BMW 320D cinza rato metalizado, estacionado ao lado de dois contentores do lixo, se viu confrontada com publicidade nas escovas dos limpa pára-brisas. Não há ninguém que não se irrite com publicidade nas escovas dos limpa pára-brisas. Ninguém. Mas só os seres menores, apenas as criaturas de baixo recorte humano, agarram nos papéis e os deitam directamente para o chão.
Este post serve para deixar para a História que eu, plena de coragem e hirta de convicção, que acabara de estacionar o meu carro muito perto do daquela megera, congelei o movimento, parei de tirar as coisas do carro e fiquei a olhar fixa e despudoradamente enquanto ela fazia a merda toda que estava a fazer e que só parei de olhar quando ela entrou no carro, viu o papel que lhe havia escapado na outra escova e já não teve coragem de o mandar para o chão de o apanhar. Ou melhor, não teve coragem de o mandar logo para o chão, que eu sei que ela não ia deixar o flyer dois meses no porta-luvas do carro, como eu deixo no meu.
Depois soprei para dentro do tubo da minha 38mm, guardei-a no coldre e fui ao Sr. Manel comprar tangerinas.
7 comments:
estás quase no "deixou cair o seu lixo"
e se o negarem "isto não é o caixote do lixo que é a sua casa".
até ao último recurso "porca sem vergonha"
>:>>>
a difícil "arte" de se (con)viver.
não sei se sou assolapada por "uma quase inultrapassável sobranceria", muitas vezes estou no "deixou cair o seu lixo", e fico por aí
na maior parte das vezes, é mesmo a "assombrosa timidez" que vence, penso que é o resultado da minha falta de crença no impacto de qualquer abordagem junto desses porcos mal-educados versus a protecção do meu bem-estar contra trocas palavras desagradáveis e inúteis...
é um assunto mau para o qual tento a solução do mal-menor, a 38mm parece-me bastante boa
bom-dia :)*
Ou uma 50mm e um blog só para isso. Estive para postar a matrícula da gaja, mas o Pedro e um idiota respeito pela privacidade alheia, impediram-me.
Ao resto nem quero chegar, sou snob demais, acho. Mas o "deixou cair o seu lixo" é das coisas mais lindas que já ouvi e que hei-de usar, crl!
já cheguei a apanhar o papel mandado para o chão e ir entregar. não têm cara para não aceitar :P
não acredito que os mude, mas gosto de os envergonhar - gosto sim! muito! - e se tiverem medo de serem envergonhados outra vez, talvez não o façam. ;P
também já apanhei o papel e fui deitá-lo no caixote azul que até estava mesmo ao lado. e sem sequer olhar para a palerma-idiota que o deitara para o chão. grunf! e o pior é que eu acho que a parva nem se envergonhou...
parabéns à tua 38mm :)
lembrei-me de ti, deste post, quando no dia seguinte vi coisa semelhante. com caixote ao lado.
Dá vontade ou não dá vontade?
Post a Comment