Certos dias, Ernesto sente-se instalado nos anos 80 num qualquer país da Europa de leste, a trabalhar muito lentamente numa repartição cinzenta e fria, a humidade audível ao traçar percursos sinuosos pelas paredes e pelos móveis (também) cinzentos e laranja-acastanhados da ferrugem que os corrói a espaços. Nesses dias, não lhe custa imaginar-se dentro de um filme conceptual e lento, bem mais longo que o necessário, mas capaz de granjear os favores da generalidade da crítica da especialidade, usando um corte de cabelo disforme e facilmente associável a uma crónica falta de higiene. É quase como se estivesse no limite do uso dos sentidos, quase cego, quase surdo, quase mudo, num tempo quase morto. Como se o fundo estivesse motion blured e ele, quase imóvel, sozinho quase no centro da fotografia.
3 comments:
E os nossos emigrantes de antanho?Será que não passariam pelas mesmas situações? Mundo cão...
al-i, as repartições da europa de leste, pelo menos na década de oitenta, não eram assim; não eram nem frias, nem húmidas, porque tinham aquecimento e estavam fornecidas com o melhor que se produzia ao nível do design de equipamento, na altura.
:x
Pronto! Lixaste-me a fantasia!
:D
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