Desde logo isto:
Como é que um ex-fumador lida com uma pessoa que voltou a fumar? Eu já tenho escrito que uma das maiores tragédias dos ex-fumadores é a anomia que se nos abate e nos priva de sentimentos de pertença. Nem os fumadores nem os não fumadores nos aceitam, nem nós queremos aderir com grande entusiasmo a nenhum dos grupos. Eu sei que a doutrina diverge muito e que para alguns uma pessoa fica a deixar de fumar até ao fim dos seus dias, mas eu entendo que chega uma altura, um dia de manhã qualquer, em que uma pessoa deixa de deixar de fumar e passa a ser coisa nenhuma. Nem não-fumador nem fumador, enfim, já sabem. Que nos resta então? Só aquele momento de feliz união de gente que sofre em conjunto, trocar experiências, juntos são melhores que fumadores e não-fumadores. São invencíveis! Só que dura pouco, partilhamos esta experiência espectacular e depois cada um segue o seu caminho, as pessoas casam, arranjam empregos, sei lá. Vidas. Fui apanhado de surpresa com um tipo que voltou a fumar, isto sim, uma novidade. Não há desilusão, nem mágoa, ninguém aqui se sente traído, não vamos por aí. Mas há uma pontinha de inveja. O sacana ali a fumar refastelado o seu cigarro e diz que lhe sabe bem e um gajo treme um bocado. E aparecem todos os demónios de volta, não com demasiada força, mas aparecem, a moer de fininho a força de vontade de uma pessoa. Não é isto que me vai fazer ceder, mas estremeço de cada vez que regressa esta presença do mal entre nós.
e depois isto:
Só agora que estou há praticamente um mês sem fumar é que descubro que talvez isto não seja nada de especial. Ouço agora de todo o tipo de fumadores que é comum passar-se algumas temporadas sem fumar, ou pelo menos que já o fizeram uma vez. Para alguém como eu isto era absolutamente impensável. Nunca me passou pela cabeça ficar um dia sem fumar. Por um lado porque achava parvo e não via, nem vejo, o objectivo de quem quer que fosse fazer uma coisa dessas, e por outro porque nunca seria capaz. O mais certo é que estejam todos a mentir.
(...)
O que já é certinho é que vão todos reparar quando eu tiver engordado os tais trinta quilos. As pessoas hão-de de dizer 'olha, lá vai o badocha, coitado. Deixou de fumar e ficou logo assim. É tramado isto, não se pode', após o que puxam uma baforada misturada com suspiro. São pessoas magras, estas. É que apesar do que tentam convencer-nos, não há sinais de falta de saúde entre os fumadores. Admito um ou outro sinal de aparente envelhecimento e há o amarelar de tudo o que nos rodeia, mas são coisas que têm solução, ou então boas em si. Quando se deixa de fumar fica-se irremediavelmente gordo, ansioso e moralista. São logo os três planos do indivíduo que vão com os porcos.
E muitos muitos mais, num crescendo solidário só aparentado com os que já disseram: Adeus Cianeto de Hidrogénio.
Como é que um ex-fumador lida com uma pessoa que voltou a fumar? Eu já tenho escrito que uma das maiores tragédias dos ex-fumadores é a anomia que se nos abate e nos priva de sentimentos de pertença. Nem os fumadores nem os não fumadores nos aceitam, nem nós queremos aderir com grande entusiasmo a nenhum dos grupos. Eu sei que a doutrina diverge muito e que para alguns uma pessoa fica a deixar de fumar até ao fim dos seus dias, mas eu entendo que chega uma altura, um dia de manhã qualquer, em que uma pessoa deixa de deixar de fumar e passa a ser coisa nenhuma. Nem não-fumador nem fumador, enfim, já sabem. Que nos resta então? Só aquele momento de feliz união de gente que sofre em conjunto, trocar experiências, juntos são melhores que fumadores e não-fumadores. São invencíveis! Só que dura pouco, partilhamos esta experiência espectacular e depois cada um segue o seu caminho, as pessoas casam, arranjam empregos, sei lá. Vidas. Fui apanhado de surpresa com um tipo que voltou a fumar, isto sim, uma novidade. Não há desilusão, nem mágoa, ninguém aqui se sente traído, não vamos por aí. Mas há uma pontinha de inveja. O sacana ali a fumar refastelado o seu cigarro e diz que lhe sabe bem e um gajo treme um bocado. E aparecem todos os demónios de volta, não com demasiada força, mas aparecem, a moer de fininho a força de vontade de uma pessoa. Não é isto que me vai fazer ceder, mas estremeço de cada vez que regressa esta presença do mal entre nós.
e depois isto:
Só agora que estou há praticamente um mês sem fumar é que descubro que talvez isto não seja nada de especial. Ouço agora de todo o tipo de fumadores que é comum passar-se algumas temporadas sem fumar, ou pelo menos que já o fizeram uma vez. Para alguém como eu isto era absolutamente impensável. Nunca me passou pela cabeça ficar um dia sem fumar. Por um lado porque achava parvo e não via, nem vejo, o objectivo de quem quer que fosse fazer uma coisa dessas, e por outro porque nunca seria capaz. O mais certo é que estejam todos a mentir.
(...)
O que já é certinho é que vão todos reparar quando eu tiver engordado os tais trinta quilos. As pessoas hão-de de dizer 'olha, lá vai o badocha, coitado. Deixou de fumar e ficou logo assim. É tramado isto, não se pode', após o que puxam uma baforada misturada com suspiro. São pessoas magras, estas. É que apesar do que tentam convencer-nos, não há sinais de falta de saúde entre os fumadores. Admito um ou outro sinal de aparente envelhecimento e há o amarelar de tudo o que nos rodeia, mas são coisas que têm solução, ou então boas em si. Quando se deixa de fumar fica-se irremediavelmente gordo, ansioso e moralista. São logo os três planos do indivíduo que vão com os porcos.
E muitos muitos mais, num crescendo solidário só aparentado com os que já disseram: Adeus Cianeto de Hidrogénio.
3 comments:
Interessante forma de substituir a nicotina
Estás novamente a ser atraída pelo lado negro da força,Alice?
Sempre. >:>
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