Sejamos sinceros, Famalicão é uma cidade estranha, daquelas em que toda a gente (menos nós) parece conhecer um temível segredo, e que é graças a essa misteriosa iniquidade que a cidade parece ter permanecido encravada algures nos finais dos anos 80, ainda que, por todo o lado, apresente traços e pinceladas aparentemente despropositadas do século XXI e da suposta sofisticação das cidades grandes. Portugal tem, de facto, vários Portugalinhos dentro.
Famalicão oferece apenas um hotel. Se se andar de táxi entre o hotel e qualquer sítio da cidade ou entre qualquer sítio da cidade e o hotel, paga-se sempre € 3,90 (vem marcado por defeito no taxímetro). Simpatia nortenha a servir, sempre; que não restem dúvidas que existe um contraste entre o conceito de serviço no Norte e a muito disseminada falta de vontade de atender do Alentejo. No Norte sinto sempre que querem tratar de mim, pôr-me bem e confortável; aqui em baixo, estamos quase sempre a dar maçada.
A Casa das Artes de Vila Nova da Famalicão lá está, pois então, embutida num jardim, ao lado de um restaurante (desses das pinceladas do século XXI) e, confrontada eu com alguma da vivência da cidade, e sem me ter cruzado com mais que umas 4 "pessoas que oferecessem indícios de ser do Sul", confesso que estava curiosa para perceber quantas ouvintes lá estariam e que tipo de assistência ofereceriam ao concerto. Pelo que consegui perceber (estava na primeira fila e não olhei muito para trás), foi um concerto de meia-sala, sobretudo composta de fãs veneradores ou respeitosos curiosos. A partir da quarta música - findos que estava, os clicks das máquinas fotográficas - o silêncio prolongava-se sempre até terminar o último reverberar do último som de cada uma das canções.
Apenas Rickie Lee Jones (voz, piano e guitarra) e Petra Haden (voz, violino e titubeantes percussões), num concerto muito bonito em que a protagonista, na força da sua voz e da sua forma de ser, ter e dar música, se pressente sempre tão instável de humores e invadida na sua privacidade, mantendo a plateia falha de respiração na maior parte do tempo, suspensa das formas mágicas dos seus quase silêncios. A voz de Rickie Lee Jones e a sua maneira de a moldar para mostrar a música fazem-me sempre achar que devem soar como soaria a chuva, se a conseguíssemos ouvir antes de cair no chão.
6 comments:
Nasci em Famalicão mas saí de lá aos 2 anos, ainda fui lá muitas vezes visitar a avó e família (da parte do meu pai).
Sempre tive a RLJ por uma "major star", no seu contexto, evidentemente. Por isso, questiono-me: o que significa RLJ em Famalicão? "Just a fading star", ou um hipertrofiado e ecléctico pelouro da cultura da CMF?
Olha a Petra Haden (filha do Charlie e mana do Josh, dos Spain)!
"o que significa RLJ em Famalicão? "Just a fading star", ou um hipertrofiado e ecléctico pelouro da cultura da CMF?
Significa a puta da "descentralização" que leva a que o pessoal de Lisboa (e, vá lá, do Porto) que merece muito mais ver essas coisas fique a chuchar no dedo!!!
... just kidding...
... ... but ... ...
eu estou com o Sr. Lisboa!
#$#"#$% da descentralização!!! e com o preço a que está a gasolina ir ver um espectáculo desses ao fim das costas de Judas fica numa fortuna!
ah e #$%#$%#$% para que cá em baixo se serve pior do que lá em cima.
sim o dia hoje correu-me mal.
as fotos estão lindas though.....
eu sempre disse que a descentralização foi a pior e a mais injusta das invenções.
mas a minha carteira até agradece :S
e até vi coisas lindas nessa noite >:P
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