September 19, 2008

a thousand different versions of yourself

Mais duas mãos e dois olhos, banda larga no carro, e este blog estaria recheado de pérolas de sabedoria e pertinentes reflexões acerca da natureza humana, seus desígnios, penas e anseios. Estacionando ali em frente, começa a emperrar-se o fluir do raciocínio, toldado pelas realidade áspera dos dias e esvaem-se os fios das teias, retraiem-se os veios das ideias, num colesterol sufocante e aflito. São como os diospiros, os dias a trabalhar contrariada, deixam sempre a língua gorda e a arranhar o céu da boca. Eu não os como, se puder. Maracujás também não e quase pelo mesmo motivo. Os dias assim, são como aquela música de elevador que se impõe e não deixa pensar, aquelas séries de TV com gravações de pessoas a rir e a bater palmas - e a rir e bater palmas, que é uma espécie de rir à funcionária pública dos anos 70, com o cabelo armado pela mise e as carnes ainda rijas mas já tão carentes do repouso da reforma antecipada.

Esta semana, dividida no carro entre os National e os Shins, em sequência alternada e democrática (a democracia possível), vou esquecê-la em poucos dias, deixá-la ser substituída por outros acontecimentos ainda mais penosos, aborrecimentos ainda mais inconvenientes, evidências em tudo mais concretas. Também se escoará nas gargalhadas que partilharei, frente a pratos deliciosos e vinhos quase perfeitos, em beijos e abraços redentores e descobertas florescentes e olorosas. Soçobrará no prolongar do embate na almofada e no inspirar-expirar com que os sonhos oxigenam as noites. Curtas, as noites.

Só um pedaço menos de criança. Um passo mais para longe da parede onde se ficava a contar enquanto os outros se escondiam.

3 comments:

João Lisboa said...

Chin up, Alicinha!

pennac said...

E abusa do relativismo. A mim ajuda sempre...

menina alice said...

O relativismo é como a nossa liberdade: acaba onde começa o dos outros. E há gajos pros nessa cena.

Trying, trying. ;)

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