O tempo que por mim passa vai retirando peso à vertente razoavelmente facciosa onde coloco os que amo, chegando a acutilar-me o sentido crítico quase até à impaciência. Se a isto adicionarmos uma sesta excessivamente comprida e o mau-humor desorientado que sempre daí chega, temos um pedaço mal passado no concerto de hoje da Mafalda Arnauth.
Ao ouvi-la e a aborrecer-me, cheguei a prometer em silêncio não escrever a propósito, mas a distância que me vai apartando do que ela faz, já não me permite indulgenciar esperanças. Felizmente, ainda há (e vai haver) muito quem se deixe enternecer pela coquetterie e pelos tiques de estrela, como o de entrar em palco logo com os braços abertos em forma de encomenda de ovação. Não que eu pense que se deva ser humilde ou recatado. Os grandes artistas também se fazem de egos portentosos. Se a modéstia aborrece nas pessoas normais, que fará nos que partilham a alma? Igualmente verdade que não gosto de concertos em que o público participe. O povo é para estar sentado, a ouvir e a ver e a bater palmas quando acabam as músicas, discreta e educadamente. Ou efusivamente. De toda a maneira, porque quer e não porque lhe peçam. Mas este é problema meu. As pessoas divertem-se de maneiras diferentes, e faz parte da conversa da liberdade e das costas suportar melhor ou pior esses arroubos.
Já escolher gostar e respeitar (e não gostar e não respeitar) um artista que se alimenta e tenta alimentar o espectáculo da adoração do público é um direito fundamental. Não que o pecado dessa gula não tenha sempre assomado as actuações da Mafalda Arnauth, mas vem ganhando terreno em inversa proporção aos momentos de encantamento, outrora bem mais frequentes. Belíssima a voz dela, é impossível não lamentar o caminho fácil que trilha, da fórmula de sucesso que chega a cada vez mais público e, muito provavelmente, lhe satisfaz a ambição artística. Tudo muito legítimo e lógico. Mas banal e chato. Mais uma vez, problema meu, evidentemente, por preferir arrebatar-me com a contenção e o controlo. Muito de ser artista é protagonizar um sonho - e vender discos, que todos temos de comer. Isto que eu escrevo agora, existe apenas porque há quem se submeta a este escrutínio para poder realizar esse sonho. O resto é causa-efeito.
Ao ouvi-la e a aborrecer-me, cheguei a prometer em silêncio não escrever a propósito, mas a distância que me vai apartando do que ela faz, já não me permite indulgenciar esperanças. Felizmente, ainda há (e vai haver) muito quem se deixe enternecer pela coquetterie e pelos tiques de estrela, como o de entrar em palco logo com os braços abertos em forma de encomenda de ovação. Não que eu pense que se deva ser humilde ou recatado. Os grandes artistas também se fazem de egos portentosos. Se a modéstia aborrece nas pessoas normais, que fará nos que partilham a alma? Igualmente verdade que não gosto de concertos em que o público participe. O povo é para estar sentado, a ouvir e a ver e a bater palmas quando acabam as músicas, discreta e educadamente. Ou efusivamente. De toda a maneira, porque quer e não porque lhe peçam. Mas este é problema meu. As pessoas divertem-se de maneiras diferentes, e faz parte da conversa da liberdade e das costas suportar melhor ou pior esses arroubos.
Já escolher gostar e respeitar (e não gostar e não respeitar) um artista que se alimenta e tenta alimentar o espectáculo da adoração do público é um direito fundamental. Não que o pecado dessa gula não tenha sempre assomado as actuações da Mafalda Arnauth, mas vem ganhando terreno em inversa proporção aos momentos de encantamento, outrora bem mais frequentes. Belíssima a voz dela, é impossível não lamentar o caminho fácil que trilha, da fórmula de sucesso que chega a cada vez mais público e, muito provavelmente, lhe satisfaz a ambição artística. Tudo muito legítimo e lógico. Mas banal e chato. Mais uma vez, problema meu, evidentemente, por preferir arrebatar-me com a contenção e o controlo. Muito de ser artista é protagonizar um sonho - e vender discos, que todos temos de comer. Isto que eu escrevo agora, existe apenas porque há quem se submeta a este escrutínio para poder realizar esse sonho. O resto é causa-efeito.
14 comments:
quem é a mafalda arnô?
pq é que ela tem um apelido estrangeiro e difícil de pronunciar?
"assomar"
A Mafaldinha já teve melhores dias, já.
Eternamente grata. É que, ainda por cima, a dúvida assomou-se-me, mas a preguiça venceu e saiu asneira.
Tu sabes quem é, não sabes, Steed?...
A Mafalda a partir do excelente "Esta voz que me atravessa" começou a descarrilar.
texto digno de um jornal
limpo, honesto, bem justificado
não é um "bota-abaixo porque sim"
sem caprichos pueris, explicas os porque não e os porque sim da forma como gostaria de ler mais vezes
e num português impecável (sendo o "assomar" a excepção :P)
parabéns!
p.s. não é o amor a falar, às x tb sou objectiva
"texto digno de um jornal
limpo"
A menina Alice é muito asseadinha.
valha-nos deus por isso. tás a ver o Monk? A menina Alice é dez vezes mais asseadinha.
Ó mna. Alice a sério, nunca ouvi nada da Mafalda Arnô. Se calhar tive medo que fosse parecida com a outra, a Veiga. E depois quase não ouço música tuga. Sou o raio de um estrangeirado.
"A Mafalda a partir do excelente "Esta voz que me atravessa" começou a descarrilar."
Tem um ou outro momento depois disso, rui, mas não posso contradizer-te, isso não posso. E tenho pena. Ela canta tão bem.
"p.s. não é o amor a falar, às x tb sou objectiva"
Mas só com o amor consigo responder-te, oh Margarete B. O assomar, pelo menos, merecia umas palmadas.
*****
"A menina Alice é muito asseadinha."
E cheirosinha, também sou cheirosinha.
"Ó mna. Alice a sério, nunca ouvi nada da Mafalda Arnô. Se calhar tive medo que fosse parecida com a outra, a Veiga. E depois quase não ouço música tuga. Sou o raio de um estrangeirado."
Steed... Tu estás à beira de te tornares um projecto meu. Mal eu tenha tempo, vou ter de te pôr a ouvir a arnô. E outras coisas boas que não conheças?...
glup! deixa estar.
eu vou aos blogues do senhor lisboa e do senhor galopim e eles ensinam coisas boas ao steed.
És um ingrato, Steedc... tsk, tsk, tsk... >:>
:D
Margarete, tens de ler o texto de ontem do Nuno Pacheco sobre o concerto da ArnÔ. Esse sim, grande pedaço de escrita. ;)
Já encontrei, Margas. vou mandar-te por mail.
agradecida, já li, TAMBÉM grande pedaço de escrita 8)
"Esta Voz Que me Atravessa" é um bom título para o trabalho que estou a fazer :) a sério, diz tudo-tudo e é lindo e até me deu outro alento para começar o dia :)
(será que custa muito a cena dos direitos de autor se eu quiser usar?)
... estou como o Sr Steed, tenho de ouvir
ah.. b'dia :)
:) Bom dia :)
Eu compreendo porque achas o título bom, ao ponto de achar que, se calhar, vale a pena ligar para a SPA a perguntar quanto se paga...
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