December 27, 2008

partes de hinos

Não me acontece muito estar em silêncio. Calada, sim; em silêncio, não. O tempo parece sobrante e gigante se estiver despreenchido de música. Ganha formas fofas a amplas como os meus sonhos de crescimento, sempre a transbordar de uma matéria surda a fazer lembrar marshmallows. Quando tinha esses sonhos, os marshmallows não andavam por aí a anunciar-se nas prateleiras dos caprichos de final de compras, ao lado das caixas dos supermercados, apareciam num ou noutro filme, espetados em paus ou ramos de árvores para serem derretidos em fogueiras de adolescentes americanos. Pode imaginar-se o desconforto que me traziam aqueles invasores da bem-aventurança, formando constantes labirintos moles e impedimentos frouxos, porém intransponíveis. Suponho que nunca me atrevi a experimentar - para além da evidente aparência de esponja indigerível - por temer aquela sensação de vertigem que me assaltava nessas noites de tirocínio de ser crescida. Entre mim e o espaço sem fim que não é ocupado pela música, vão-se inflacionando marshmallows silentes que me obrigam a levantar, a escolher, a pôr a tocar. O sonho comanda a vida, fá-la remota.




(obrigada, oh pais natais)

3 comments:

Anonymous said...

Tu recebeste esta caixa do Pai Natal? Maldita sejas!!

menina alice said...

Pois é Manel... As meninas boas vão para o céu. >:>

João Lisboa said...

Food for thought:

http://lishbuna.blogspot.com/2008/12/why-music-economist-18-de-dezembro-de.html