December 18, 2008

a propósito de quinta-feira passada

A ZDB contraria-me. As pessoas são antipáticas e desconfortáveis, parecem estar sempre a fazer-nos o favor de nos atender só porque somos pessoas normais com roupa normal, peso normal, óculos normais, profissões normais e até famílias. Normais. Por sermos pessoas que respeitam as regras de pontuação nos textos e usam os cumprimentos adequados às alturas do dia em que estão acordadas as pessoas que se desperdiçam ou vivificam em trabalhos... normais.

É pois evidente que evite frequentar o sítio, até porque começo logo a passar-me para o lado negro da força mal me inclino na secretária à entrada para comprar o bilhete, frequentemente caro demais para o que não vou ver do espectáculo e vendido a contragosto. Só que, às vezes, tem mesmo de ser. No outro dia assim foi. O João Lisboa tinha mencionado há pouco e, depois de ouvidos alguns acordes, pareceu improvável faltar ao evento: os High Places tocariam em Lisboa, no dia 11-12, na ZDB, está bom de ser ver. Passado o tormento electrónico a que uma banda nacional submeteu os presentes (teria tocado uma outra antes, mas as conivências do cosmos subtraíram-nos ao seu convívio), chegaram aqueles two dads hanging out, transpirando modéstia daquela que nos torna logo amigos deles, cansados de uma tour comprida em que viajam apenas os dois, com instrumentos, demais maquinaria e ainda os vinis para vender depois dos concertos.

O som que eles mostram ao vivo (e o vinil que veio para casa, pois claro!), situa-nos no dogma de a música ser feita de milhares de minúsculos dedos que nos percorrem o corpo todo e, num monumento a isso de a união fazer a força, nos levantam do chão os pés, submersos num zapping de cores sem nome.


(mesmo que me faltem algunas referências) Soou, de facto, a

Young Marble Giants perdidos no labirinto de uma colmeia e repetindo, incansavelmente, três compassos de uma partitura de Steve Reich, tocada em “steel-drums”, num palco subaquático.



São de Brooklin, têm blog, têm Flickr e têm MySpace. 2008 em grande estilo.

4 comments:

-pirata-vermelho- said...

E viv'o jornalismo publicitário!

Mr. Steed said...

como te compreendo...ser de aspecto sempre tão normalito que as pessoas bocejam só de olhar para mim...

nc compreendi a ligação que há entre "ser humano intelectual e artista" e "ser humano embirrante, antipático e mal educado".

mas tb nunca percebi pq é que têm de ser os piores cinemas a passar os melhores filmes e coisas do género.

(suspiro)

João Lisboa said...

Alicinha, Alicinha... ai a tua credibilidade indie... e até podias - com a gentil colaboração da D. Noémia - criar uma personagem alternativa como "freak de gato".

cj said...

um disfarce resolve, uma espécie de alter ego.
não?...