June 12, 2009

semana de contagem regressiva

O CCB deu "Carta Branca a Camané". O fadista convidou Mário Laginha a reescrever para a Orquestra Metropolitana de Lisboa os temas de "Sempre de Mim" e mais alguns fados antigos. Esperem delicadeza e jazz na 2ª feira.

De vez em quando o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, convida um compositor ou intérprete a criar de raiz um espectáculo e levá-lo à cena no CCB. Chamam a essa iniciativa Carta Branca, em referência à liberdade total que é oferecida aos criadores. O percussionista Pedro Carneiro e o compositor Jorge Palma foram dois dos portadores da Carta Branca e agora é a vez de Camané: segunda-feira teremos a oportunidade única de ver a obra do fadista reescrita para as pautas da Orquestra Metropolitana de Lisboa e o piano de Mário Laginha.

Esta não é, no entanto, a primeira vez que Camané trabalha os seus temas com orquestra. O ano passado o Teatro Municipal de Portimão convidou-o a tocar com a Orquestra do Algarve na inauguração do novo teatro. Na altura o fadista convidou Mário Laginha para fazer alguns arranjos e o encontro foi gratificante ao ponto de Camané ter sentido "imediata identificação" com Laginha e Cesário Costa, o então director da Orquestra do Algarve e actual director da Metropolitana de Lisboa.
"Logo na altura combinámos encontrarmo-nos outra vez porque tivemos muito prazer a trabalhar juntos", disse ao Ípsilon o fadista, a partir da Argentina onde esta semana deu concertos. O espectáculo do Algarve serviu de embrião para o do CCB, mas, de acordo com Camané, este "tem mais arranjos, mais temas com orquestra, é mais completo".

No palco do CCB

O que podemos esperar ver no palco do CCB? O concerto será "baseado no último disco", o extraordinário "Sempre de Mim", mas também terá "alguns temas mais antigos". A maior parte dos arranjos é de Laginha, havendo igualmente um do pianista Filipe Melo, para "Mais um fado no fado", e outro do incontornável Zé Mário Branco, para "Luz de Lisboa". Laginha realça a presença de vários temas de Zé Mário Branco, que qualifica, após estudá-lo para este espectáculo, como "um compositor incrível".

A estrutura do concerto é curiosa: todos os músicos estão "sempre juntos no palco", embora aconteçam "sempre coisas diferentes". "Pode acontecer uma música nova com guitarras e orquestra, e a seguir um fado tradicional só com guitarras", disse Camané. Segundo Cesário Costa teremos direito a ver Camané com o seu habitual trio (guitarra portuguesa, guitarra de fado e viola-baixo), Camané com o piano de Laginha, Camané com Orquestra, Camané com piano e Orquestra e ainda Camané com trio, Laginha e Orquestra.

Garantidos no alinhamento estão, além dos dois temas já mencionados, "À mercê de uma saudade", "Asas fechadas", "Lembra-te sempre de mim", "Esse silêncio", "Marcha de Lisboa", "Te Juro", "Abandono" e "Margarida" (de Laginha, a partir do poema de Álvaro de Campos).
Já houve experiências de fado com orquestra, no entanto, segundo Cesário Costa, o que distingue este concerto é a "presença do piano e dos arranjos do Laginha, que trazem um lado jazzístico raro à união entre orquestra e ao fado".

Camané confessa que não deu grandes indicações a Laginha. "Ele é muito generoso e gosta de acompanhar cantores. Fez os arranjos para a minha forma de cantar". Laginha teve portanto de se desunhar, passe a expressão. Pensou no universo da Broadway como referência, mas chegou à conclusão que "não é transportável para aqui". Realça que à excepção dos trabalhos de Carlos do Carmo "não há muitas referências para isto" pelo que teve "de experimentar", "de usar as cordas de uma maneira que fosse criativa e respeitasse o fado".

Cesário Costa exemplifica essas experiências: "Há certas partes em que normalmente temos a guitarra a conduzir e essa parte agora é feita pela harpa. Ou então por vezes há uma tuba presente na instrumentação, o que dá um colorido muito diferente".
Num trabalho destes há especificidades a ter em conta. Por exemplo: no fado, o tempo é muitas vezes ditado pelo cantor, e os instrumentistas vão atrás. Com uma orquestra a acompanhar, isto podia tornar-se problemático. Laginha admite que na concepção do alinhamento (definido pelos três) houve temas que propôs porque achou "que a relação deles com o tempo não ia ser dramática". Noutros, em que há pausas e interrupções, viu-se obrigado "a fazer uma escrita muito clara, para o maestro saber que vai ali haver uma suspensão".

Mas esses possíveis empecilhos parecem ter sido bem contornados, pelo menos a ter em conta a opinião sempre exigente do principal interveniente, Camané: "No 'Abandono', que é um fado irregular, com muitas paragens e tempos incomuns, quem dá o tempo sou eu a cantar e a orquestra tem de me seguir. Mas acho que tal como ficou vai resultar muito bem". Assegura ainda que "os silêncios foram respeitados, bem como os tempos e a ligação com as palavras".

Inquirido sobre se o concerto resultará num disco, responde com recurso ao seu usual modo de auto-desconfiança: "Não faço ideia se vão gravar ou não. Espero mesmo não saber se vão gravar, que é para não ficar nervoso". Mas não deve haver problemas: Cesário Costa assevera que "houve todo um trabalho feito para que a subtileza do Camané estivesse presente, de modo que o Camané não estivesse ao serviço da Orquestra. Queremos oferecer leveza e delicadeza para o Camané brilhar".


No Ípsilon de hoje

4 comments:

Pedro said...

Bom, é certo que a inveja é um pecado mortal, e que é mau desejar que pessoas inocentes morram e tal...

:P inveja

menina alice said...

bem... isso de pecado e inocentes são coisas que não existem. Morrer, toda a gente morre. E eu depois conto-te tudo. Vou tirar notas e tudo. ;)

Pedro said...

Não tomes notas que te distrais, depois contas-me o que ficou, que é o que interessa

:*

*****

clic said...

Quem me dera!... Mas afinal é dia de semana... :(