Às sextas-feiras à tarde, a minha Avó ia sempre ao cabeleireiro. Sempre. Todas as sextas-feiras. Se estivesse a precisar, cortava e pintava (eu acreditei para aí cinco vezes mais anos que o cabelo dela era daquele loiro dourado, que no Pai Natal e no Menino Jesus). Mas, normalmente, fazia apenas uma mise de rolos, que depois, no decurso da semana seguinte, ia ajeitando e reafirmando com um pente muito fino, que tinha um cabo metálico comprido e parecia uma agulha. Eu ficava por trás dela, a vê-la através do espelho de meio-corpo, que tinha na casa-de-banho do andar de cima de casa, convicta de ali haver uma qualquer ciência oculta que a inspirava a transformar os amassos que a almofada forçava no aturado trabalho semanal da Dona Maria José, a cabeleireira de sempre, em novas sextas-feiras à saída do ritual.
Íamos muitas vezes com ela, eu e a minha irmã e, depois dos rolos na cabeça, ela era encaminhada, com a toalha sobre os ombros e uma rede colorida sobre a escultura de cabelos, rolos e espigões, para uma das 3 ou 4 cadeiras que se alinhavam por debaixo dos secadores de pé, e lá ficava uns minutos, que agora imagino não fossem mais que dez ou quinze, mas que, na altura, no tempo medido à medida das crianças, parecia uma eternidade, que, ainda por cima, nos apartava do gelado que havia de vir a seguir, quando o meu Avô nos fosse buscar. E, de todas as vezes, nessas sextas-feiras, quando ela estava com a cabeça no secador, fechava os olhos, e eu e a minha irmã perguntávamos se ela estava a dormir e ela respondia, de todas as vezes, nessas sextas-feiras, Estou só a descansar os olhos.
Íamos muitas vezes com ela, eu e a minha irmã e, depois dos rolos na cabeça, ela era encaminhada, com a toalha sobre os ombros e uma rede colorida sobre a escultura de cabelos, rolos e espigões, para uma das 3 ou 4 cadeiras que se alinhavam por debaixo dos secadores de pé, e lá ficava uns minutos, que agora imagino não fossem mais que dez ou quinze, mas que, na altura, no tempo medido à medida das crianças, parecia uma eternidade, que, ainda por cima, nos apartava do gelado que havia de vir a seguir, quando o meu Avô nos fosse buscar. E, de todas as vezes, nessas sextas-feiras, quando ela estava com a cabeça no secador, fechava os olhos, e eu e a minha irmã perguntávamos se ela estava a dormir e ela respondia, de todas as vezes, nessas sextas-feiras, Estou só a descansar os olhos.
9 comments:
Que bonito... é tão bom ainda amar assim não é?
Nas saudades dos outros revivemos as nossas. A minha mãe teria a idade da sua Avó. Estas suas memórias disseram-me tudo.
Bem apropriado, o dizer lá da banda: estamos juntas!
mérisendss
as saudades são os sorrisos que ficam.
F******, isto é mesmo bonito, Alicinha!
Holy... grandmother! Agora fiquei um bocado palerma
:-)
:)*** (com braços)
bonito mesmo *
bonito, como tu, digo
A minha mãe, que morreu há 15 anos, faria hoje anos.
There is no death. The stars go down
To raise upon another shore
And bright in heaven's jeweled crown
They shine for ever more.
There is no death. The forest leaves
Convert to life the viewless air;
The rocks disorganize to feed
The hungry moss they bear.
There is no death.The dust we tread
Shall change beneath the summer showers
To golden grain or mellow fruit,
Of rainbow-tinted flowers.
There is no death, the leaves may fall,
The flowers may fade and pass away
They only wait through wintry hours
The warm-sweet breath of May.
There is no death, although we grieve
When beautiful familiar forms
That we have learned to love are torn
From our embracing arms.
Although with bowed and breaking heart,
With sable garb and silent tread
We bear their senseless dust to rest
And say that they are dead...
They are not dead. They have but passed
Beyond the mists that blind us here
Into the new and larger life
Of that serene sphere.
They have but dropped their robe of clay
To put a shining garment on;
They have not wandered far away,
They are not "lost" or "gone".
Though unseen to the mortal eye,
They still are here and love us yet;
The dear ones they have left behind
They never do forget.
Sometimes upon our fevered brow
We feel their touch, a breath of balm;
Our spirit sees them, and our hearts
Grow conforted and calm.
Yes, ever near us, though unseen,
Our dear, immortal spirits tread...
For all God's boundless Universe
Is life – there are no dead.
Post a Comment