Não sei se aguento muito mais tempo este suspense de não saber se o meu chefe se vai embora já, ou se fica mais 15 anos. Ele também não. Já quer tanto ir embora que só me chateia se não tem outro remédio, ou se tem problemas relacionados com o ir-se embora que não saiba resolver por não saber como se escrevem. Os meus colegas parecem crianças de final de Agosto, cheias de saudades da escola, mas aterrorizados com os amiguinhos e o professor novo. O meu chefe (como a Maria, do último post do Ana de Amsterdam) é descarado e muito feio. Diz piadas inadequadas e desconcertantes, aliás, inadvertidas e desconcertadas. Espalha ordens e determina acontecimentos, mais ou menos quando se lembra ou se alguém lhe pisou os calos.
A mim o poder dá uma anfilaxia plenamente sintomática. A falta de sentido de oportunidade diminui-me a tensão arterial, a incapacidade para discernir a imagem global (a big picture, em linguagem que se perceba) faz-me taquicardia, os humores provocam-me distúrbios na circulação do sangue, a prepotência traz-me o edema da glote e a ignorância leva-me ao choque anafiláctico. E, com esta idade, não tenho dúvidas que todos havemos de saber distinguir a hora de dizer adeus. Se ficamos depois disso, nem é por sermos agarrados ao dinheiro ou à diferença que a nossa falta de tomates traz à vida dos outros. É porque somos uns palhaços, escondidos atrás de uma maquilhagem grotesca e a deprimir mais que a fazer rir.
Eu penitencio-me todos os dias, desde há uns 6 ou 7 anos, por não ter ânimo para dizer isto na cara do meu chefe, por não lhe explicar que, mesmo que no cenário meramente exemplificativo e temporário de ser verdade que uns nasceram para mandar e outros para obedecer, ele jamais faria história nos eleitos do primeiro grupo. É nestas alturas que me vejo misturada e sentada na sala de jantar, ocupada em nascer e morrer.
A mim o poder dá uma anfilaxia plenamente sintomática. A falta de sentido de oportunidade diminui-me a tensão arterial, a incapacidade para discernir a imagem global (a big picture, em linguagem que se perceba) faz-me taquicardia, os humores provocam-me distúrbios na circulação do sangue, a prepotência traz-me o edema da glote e a ignorância leva-me ao choque anafiláctico. E, com esta idade, não tenho dúvidas que todos havemos de saber distinguir a hora de dizer adeus. Se ficamos depois disso, nem é por sermos agarrados ao dinheiro ou à diferença que a nossa falta de tomates traz à vida dos outros. É porque somos uns palhaços, escondidos atrás de uma maquilhagem grotesca e a deprimir mais que a fazer rir.
Eu penitencio-me todos os dias, desde há uns 6 ou 7 anos, por não ter ânimo para dizer isto na cara do meu chefe, por não lhe explicar que, mesmo que no cenário meramente exemplificativo e temporário de ser verdade que uns nasceram para mandar e outros para obedecer, ele jamais faria história nos eleitos do primeiro grupo. É nestas alturas que me vejo misturada e sentada na sala de jantar, ocupada em nascer e morrer.
6 comments:
Mas então isto é assim...? Ou nada ou mais...QUINZE? Ou é só a bem do discurso literário'
A citação erudita na última frase deu-lhe um belo remate.
Ser chefe tem, de facto, muito que se lhe diga. Sei de certos chefes que gostam muito de pôr os subordinados à vontade, tipo democracia e tal, e depois não sabem lidar com a coisa, mesmo que eles determinem que os chefes são para levar a sério!
Ainda que partilhando sortes, vejo-me privilegiada. Por estar de paredes meias com quem pensa para escrever assim.
méri
resultado: andam todos aí numa ansiedade louca! se ele vai embora... e quem será o novo chefe...
... e depois de morrer se nasce de novo... mas podemos sair da sala de jantar...
camorgado
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