December 15, 2009

de resto, é só calcular a margem de lucro

Depois de muito tornear na cabeça, cheguei à genial conclusão que a melhor prenda que podia oferecer-lhe, era proteger com bolsas plásticas os vinis que se acotovelam, alfabéticos, numa daquelas estantes com quadrados "vinilnómicos" do IKEA, as quase mágicas Expedit. Numa primeira pesquisa, ainda pouco esperançosa, perguntei ao meu colega de gabinete, moço das lides musicais, se ele conhecia dealers da coisa. Que sim, tinha conhecido, há uns anos, um tipo a quem comprara umas quantas capas, a 50 cêntimos cada, mas que o contacto se havia perdido nos idos dos bolsos e do rock 'n roll.

Eu, que já tinha esta engatilhada e sou medianamente teimosa, pego em mim e ligo para a Carbono. Sim, sim, tinham bolsas, tanto para os discos como para as capas cartonadas, cada uma a uns simpáticos 80 cêntimos de €uro. De olhos ainda arregalados e, mais por descargo de consciência que por acreditar que pudesse ser mais barato, telefonei para a Louie-Louie. Vendiam, cada uma a 1€. Sem comentários.

Embora nunca tivesse averiguado, estes preços estavam a parecer-me estranhamente caros - afinal trata-se de uns objectos de cacaracá, de polipropileno, desprovidos de design e quase superflúos - e avancei para medidas extremas: empunharia o meu rato, imbuída de alguma intuição e a inevitável banda larga, e exploraria a net. Muito site palmilhado depois, dou com um daqueles deliciosos foruns de pessoas que gostam muito de um tipo específico de coisas, no caso o hi-fi, todo um mundo de cabos e calibres e canais múltiplos. Nesse site, um pertinente audiófilo, o vinilsuporter, havia postado o nome e a morada do Sr. Cabral, proprietário de "um armazém de papel e plástico, com as portas a cair literalmente de podres", que vende as capas plásticas ao quilo (cerca de 55 capas cada kilo, num valor unitário de 5/6 cêntimos) e que (esse sim) mudou a minha vida.

Telefonei-lhe logo. Não quis que eu lhe fizesse uma transferência bancária antes de me mandar a encomenda, pôs tudo logo no correio, num embrulho à medida e à prova de qualquer transtorno no transporte, e ainda me enviou a factura em separado, com um cartão manuscrito em que, com uma das mais bonitas caligrafias, me comunicava que tinha expedido as capas e que ficava a aguardar a remessa do cheque, quando me fosse oportuno. Claro que mandei logo o cheque, acompanhado de uma carta, que fiz também questão de manuscrever, e onde lhe fiz todos os elogios que a decência me permitia.

Ontem chegou-me o recibo, com mais um cartão, desta vez escrito à máquina, agradecendo as minhas simpáticas palavras. Está bom de se ver que, da próxima vez que me abeirar do Porto, não deixarei de visitar o Sr. Cabral (até porque acabei por comprar capas a menos), para lhe experimentar o aperto de mão, que deve ser daqueles sinceros e exactamente antes do vigoroso, e para o ungir em pessoa com os elogios que lhe poupei na carta.

Porque ele merece, porque tanta gente gosta de vinil e porque anda aí muito agiota encoberto, fica a morada do armazém do Sr. Cabral, com quem espero que alguém que, um dia, espreite este blog, venha a ter o prazer de fazer negócio.

Carlos S. Cabral & Filhos, Lda
Rua Jose Falcão, 144, 4050-315 porto
Telefone 222004718


Sincerely, Alice.

PS - A estante ficou mesmo mais bonita. Desafio qualquer sueco a fazer melhor.

3 comments:

salamandrine said...

que fixe :DDDD


e assim de repente, lembro-me de mais duas alminhas contentes com a informação.

Anonymous said...

Ai como adoro encontrar cabrais por ai...
camorgado

menina alice said...

O post é mesmo para aliviar dores d'alma. ;)