Vinha andando devagar, depois de entregar o puto no karaté, a caminho de um pequeno desvio para passar na vet e comprar ração para a esfomeada da gata, quando avisto duas mulheres a dirigirem-se para a porta de um prédio, à frente da qual eu só não passaria se me desviasse de uma maneira absurda. Tinham ambas cerca de 60 anos, uma delas vestia em tons de terra e a outra de negro fechado. Esta segunda quase gritava, com a voz embargada, fazendo supor que já tinha chorado ou ia a caminho disso. A em tons de terra tentava acalma-la sem muita convicção, ou então não tinha jeito. Quando dei por elas, ainda estava distante para perceber do que falavam, mas, à medida que me aproximava comecei a perceber que o assunto tinha a ver com algo que se passara na sacristia. A primeira frase que me fez sentido foi da consoladora, que hesitava um "Mas tu não podes dar ouvidos a tudo o que ela diz!". A pobre de negro atirou-lhe um suspiro/grito todo áspero e desalentado, mas ininteligível. Quando me abeirei delas, ela gritou, virando-se na minha direcção, com o braço esticado e a mão direita em concha, a fazer lembrar pantomimas de excesso de representação: "Mas tu não viste com os teus olhos?! Eu estava à frente de Deus e não consegui fazer nada! Não consegui fazer nada...".
Fui salva pela esquina que estava logo à frente.
4 comments:
não ficaste um nadinha curiosa?
Eu não resistiria a mandar um bitaite. Oportunidades dessas não surgem todos os dias.
Fiquei agradecida à esquina redentora, foi o que foi. No mais abnegado silêncio.
Twilight Zone.
:-)
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