April 07, 2011

economia my ass, é mesmo o dinheiro

Ninguém me tira a ideia que parte substancial disto tudo vem de a riqueza estar mal distribuída e de haver pessoas que têm mesmo muito dinheiro, outras nenhum e um molho de enrascados de permeio. Claro que o que eu digo não é relevante, porque sou daqueles seres imaginários que acredita que todos os trabalhos são igualmente importantes e que todos deviam ser pagos pelo mesmo. Porque o que eu faço é tão importante como o que faz o Fernando Ulrich, e nenhum de nós aguentava trabalhar muitos dias sem a senhora da limpeza do escritório vir pôr o gabinete aceitável ou sem o homem do lixo vir recolhê-lo. Provavelmente, andaríamos os dois às aranhas se os jornalistas não nos dessem as notícias ou se não tirássemos umas horas por semana para que alguém nos entretesse... Já para não falar de quando morrermos, se não houver que nos sepulte.

Criou-se foi esta ficção do merecimento, que existe apenas para justificar que uma mão-cheia de pessoas ganhe quantias astronómicas. Eu não tenho dúvidas que, num sistema justo e equilibrado, faria o que faço, como faço, ainda que ganhasse metade do que ganho, porque é o meu trabalho e porque aquele seria o meu dinheiro. Nem é a questão do ovo e da galinha, o mérito, como outros mecanismos capitalistas, foi sintetizado para justificar benesses e privilégios que, para além de terem feito sentar à sombra da bananeira muitos de quem os recebeu, escarrapacharam a humanidade de quem os atribuía, porque o ser humano, lá está, é humano, e não consegue considerar variantes exclusivamente objectivas, até porque não existem. Logo, devia aplicar-se a regra básica do "não sabe, não estraga".

É como se continuássemos todos a ser crianças e recebêssemos prendas quando saem as notas dos períodos escolares. Lamento informar que somos crescidos e não temos de ser recompensados porque fazemos o que temos de fazer, bem feito. Temos de trabalhar, fazer a nossa parte, com consciência de ser importante o contributo e viver o resto. Trabalhar, suponho eu, não será um desígnio natural do homem. É necessário. Faz-se.

Eu não acredito na capacidade de ninguém para avaliar o meu trabalho, tirando eu própria, porque sei o que escolho fazer e deixar para depois. Todos sabemos, querendo. Portanto, quando me perguntam, então o que fazias para resolver, eu não sei responder, porque, neste mundo, as cabeças estão todas formatadas: se são licenciados, não podem fazer limpezas, se são chefes, não fazem trabalho administrativo, se são intelectuais, não sabem utilizar as mãos. E todos, todos, mereciam mais e melhor. Só que isso de merecer só existe se se acreditar em deuses e os deuses não andam a fazer muita prova de vida.

9 comments:

salamandrine said...

se voltas tão pouco para, quando voltas, se isto....

bless you - by all the right gods :P

ícone indie said...

you complete me :)

menina alice said...

Minhas babes! Se o mimo estragasse, eu já não tinha concerto. Eu acredito mesmo muito nisto que escrevi. E acho que podia fazer muita diferença.

João Lisboa said...

Tu és mazé comuna...

:-)

menina alice said...

Acha, Dr.? Só espero que isto tenha tratamento...

João Lisboa said...

Atacado numa fase precoce, o prognóstico costuma ser bom. No seu caso, menina, a coisa pode já não ser tão simples.

:-)

F said...

"É como se continuássemos todos a ser crianças e recebêssemos prendas quando saem as notas dos períodos escolares. Lamento informar que somos crescidos e não temos de ser recompensados porque fazemos o que temos de fazer, bem feito."

Subscrevo.

margarete said...

todos iguais o caraças: some girls are bigger than others!


grande, pá, és grande!

Hakeem said...

Este texto é tão bom que vou ter de te citar. Brilhante!