August 20, 2011

das dificuldades de viver em sociedade



É um parque de estacionamento. Numa praia. Faz hoje oito dias, na primeira linha, estavam quarenta e cinco auto-caravanas, quase todas solidariamente estacionadas de modo a permitir instalar a mesinha e o fogareirozinho. Do próprio e do vizinho. Conseguiram deixar os carros no espaço que os praticantes mais distraídos deixaram, vá, uns sete carros, se tanto. É tão irritante e tão pequenina esta cumplicidade entre pessoas que teriam tudo para não se suportar e se co-protegem só porque estão a fazer a mesma coisa.

Ainda há dias li um artigo na Visão, em que os adeptos da arte do autocaravanismo (sim, os mesmo que descarregam os químicos dos WC nos esgotos das cidades) se comiseravam sobre a falta de tolerância dos concidadãos e das autarquias para com esta nova forma de fazer férias. Espero que não estivessem a falar da Câmara Municipal de Sines, tão compreensiva tanto com os caravanistas, como com os utilizadores da duna para estacionarem os SUV e os TT.

Pela minha parte até entendo que se queira acordar à beira-mar, assar um robalito ou um pargo ao pôr-do-sol, demorar trinta segundos a ir à praia ou ser amigo da senhora das bolas-de-Berlim. Também pela mesma parte (a minha), alguém com juízo havia de limitar o estacionamento daqueles gigantes a umas horas por dia (ou noite), e traçar uns riscos no chão para não ocuparem o espaço de um hipermercado. Isto para o resto das pessoas também estacionarem, sem demorarem horas para o fazer e sem terem de expelir para o ambiente toda a gasolina que os autocaravanistas poupam nas suas longas estadias em contacto com a natureza.

É tão bonito fazer o bem à custa do gajo do lado, não é?

PS - Note-se que a praia nem se vê nas fotos. Podia ser o estacionamento de um outlet no Pombal ou em Vila Franca de Xira. E não é truque da artista. É impossibilidade física mesmo.

2 comments:

João Lisboa said...

Ó quanta insensibilidade social perante as férias badalhocas dos mais desfavorecidos!

menina alice said...

Falhei outra vez, não falhei, camarada?... Sou uma burguesinha sem vergonha.