July 21, 2013

Subiinhar udo

Foi tudo por água abaixo. Ficou este mundo todo à volta. Imagens, sons, tempo. Dias e dias e dias. Manhãs, tardes, noites. Silêncios  e lugares-comuns. Vazios. Complicadíssima a teia. Escrever, publicar. Ler, sublinhar. Caminhar porque se tem de seguir. Proibido esperar. Sorrir, fazer por aorrir. Ter horas a mais. Nunca sonhar. Seguir, seguir, seguir. Na noite mais escura, no dia mais longo.  Nem ouvir a música que toca. Fazer de conta que o presente é que conta, que o passado morreu e o futuro a deus pertence. Deus? Zapping e flores que não saem da jarra, mas já todas mortas. As flores morrem sempre num instante, mesmo que fiquem na terra. Distância. Metros, quilómetros, anos-luz. Abraços e beijos sem nada dentro. Serenidades pré-fabricadas. Eat, sleep, repeat. Saber que piora, que piora sempre. Nem poder desistir. Como evitar as dores? Férias, trabalho. O comboio na paragem do autocarro. Já se sabe qual de nós faltou hoje ao rendez-vous. Toda a gente passou horas em que andou desencontrado? E as horas a seguir? Chegam os livros, as músicas, os filmes? Há um ponto a partir do qual? Podia haver esfoliação dos sentires, livrar-mo-nos das células mortas. E podia haver magia, pessoas especiais, amores eternos, partos sem dor, manhãs lentas, mimos a rodo, entardeceres mornos todos os dias. Podia nem haver memória.

And finally the lark had a solution
She decided to bury her father in the back of her own head.
And this was the beginning of memory.
Because before this no one could remember a thing.
They were just constantly flying in circles.
Constantly flying in huge circles.


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