Cruzo-me quase diariamente, perto de casa, ora pela manhã, ora pela tarde, com um homem de 70 e muitos anos, a passear o seu cão, um rafeirote que pouco mais tem de bonito que o ser cão. Nunca o vejo com ninguém e trocamos olhares de reconhecimento há uns anos. Já experimentei cumprimentá-lo, mas não resultou. Ele só me olha fixamente, apercebendo-se silencioso da minha presença.
Não que creia que estar só, assim no mais absoluto e redondo do conceito, seja um mau modo de perdurar, mas este homem, sem parecer necessariamente triste, tem, como de resto o cão, o ar mais solitário que já vi no rosto e nas maneiras de alguém. Imagino-os muitas vezes em casa, no prédio fronteiro ao meu, cada um na sua vida, mas sempre por perto, ambos conhecedores das horas rigorosas dos passeios, da comida, dos noticiários. Pouca conversa e um oceano de comunicação.
Hoje, quando saí para trabalhar, saía também ele, com mais três pessoas de tempos de mundo próximos do dele, sem o cão, com todo o ar de irem para a praia ou, sei lá, almoçar a Óbidos, e o meu vizinho, rosto menos vazio que o dos outros dias, quase parecia sorrir.
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