July 09, 2007

roteiro sigilo-gastronómico

O Cantinho e o Sabido (nomes fictícios) são dois restaurantes que pertencem à vasta categoria "Fora de Lisboa" e à mais restrita classe "Favoritos de Alice". Situam-se no litoral alentejano, numa zona já perigosamente perto do Algarve, mas a um distância ainda segura. Ambos são daqueles locais eleitos onde, a ir lá ter, ou se come peixe ou marisco ou molusco, ou mais vale ficar em casa.

O Sabido é fora da localidade, distando-lhe uns 4 km e foi evoluindo da crisálida "tasca de pescadores" para a borboleta "restaurante de moda das férias" (transformação documentada por fotos que decoram todas as paredes de madeira do local, juntamente com objectos relacionados com a pesca), sem prescindir das características rústicas que o tornam daqueles poisos confortáveis, mas não em excesso (os bancos são corridos, por exemplo). A denominação "restaurante de moda das férias" não está aqui senão para servir de alerta à necessidade de se marcar mesa (pena mesmo é eu não dizer que restaurante é...), porque, de resto, nada tem que lembre Albufeiras ou quejandos.

O serviço é quase-péssimo (se bem que, no último Sábado, arrisco afirmar que correu melhor que nunca), mas a comida que servem compensa largamente e tudo faz esquecer. O peixe é fresquíssimo, a lista de pratos é variada (no peixe; a de carne, confesso que nem li) e a de entradas uma tentação. Sobremesas nunca consegui comer. Nesta última visita, saudosa, não resisti a repetir os divinos filetes de peixe-aranha com migas, mas as postinhas de moreia frita (como podem as cobras ser tão boas?) e o sargo grelhado também estavam de comer de joelhos. Só mais um alerta, as doses são grandes e, para três pessoas que comam bem (sem alarvices e sem desnutrição), duas são suficientes, sobretudo se antecedidas de entrada.

O Cantinho é toda outra filosofia. Fica no centro de uma pequena terreola, aí a 1,5 km de uma praia fabulosa e padece da mesma necessidade impreterível de marcar mesa. O design é menos pitoresco e a simplicidade é palavra de ordem. Desconheço-lhe o historial, mas posso dizer que a disponibilidade é... flutuante, i.e., um dia pode estar aberto, outro não, em fins-de-semana que fariam várias casas cheias, já dei com o nariz na porta. Em suma, o inesperado pontifica e é sempre uma agradável surpresa quando as estrelas conjugam a nossa vontade de visitar o estabelecimento com a sua abertura ao público.

Uma nota para o serviço que é eficiente, embora longe de perfeito. Em noites de casa cheia, tendem a atrapalhar-se, baralhar pedidos e a demorar mais que seria de compreender, mas nunca me tiraram do sério como já aconteceu no Sabido. Embora se listem mais carnes que no Sabido, também aqui reina o peixe, sempre temperado de forma irrepreensível, muito fresco, todo pescado à séria - comi aqui alguns dos maiores robalos da minha vida -, e acompanhado por legumes discretos mas igualmente no ponto do tempero. A SALADA DE POLVO. A salada de polvo é perfeita, sem mais. É que nem tomate tem (o tomate é uma forma tradicionalmente xica-esperta de pôr menos polvo na salada), só cebola, polvo e o molho. Uma pessoa pode chorar a comer aquela salada de polvo. Sobremesas também nunca consegui comer. Sou uma pessoa de entradas, claramente.

Falta dizer que não sendo restaurantes baratos, também não deixam os olhos arregalados com os contados. É opção de cada um. Eu prefiro passar as férias de verão a mergulhar e a suspirar de prazer enquanto me regalo com peixes exoticamente condimentados, outros preferirão investir mais no alojamento ou na diversão.

Este fim-de-semana, só faltaram mesmo aqueles - pelo menos - dois cigarrinhos com o café.

8 comments:

Scarlata said...

Por tua causa vou descongelar umas coisinhas e por o avental, fiquei cheia de fome...

menina alice said...

Acredites ou não, hoje estou a ponderar seriamente a possibilidade de fazer eu o jantar. Assim eu, mesmo eu. E já sei o que vai ser o acompanhamento, só falta o conduto. :)

Scarlata said...

Ainda nem sao sete e vinte e estou aqui empanturrada... Tu anda vais em tempo de fazer uma coisa light. ;)

menina alice said...

Olha, acabei por me atrasar, apanhei trânsito e tive de ir ao japonês. Uma ralação!...

João Lisboa said...

Tens noção de que acabaste de inaugurar o género da "crítica gastronómica sonegadora de informação vital", não tens?

Olha se eu fizesse o mesmo? Por exemplo: "As mais perfeitas canções que os Go-Betweens nunca escreveram interpretadas pela voz que Stuart Staples sempre sonhou ter, fosse ele irmão gémeo de Matt Berninger. Lamento imenso mas não estou autorizado a revelar de quem se trata".

Gostavas?...

menina alice said...

:D:D:D:D:D B-)

Já às vezes é tão difícil perceber de quem estás a falar... :D Mas a ti um dia conto. Tu não és perigoso porque não te aproximas muito destas redondezas na altura crítica.

Scarlata said...

Japonês? F**** mais valia teres dito que fazes parte de uma seita... !

menina alice said...

E hoje ia outra vez, só para teres uma ideia. ;)