Aqui em Luanda é simples acreditar que temos de estar atentos, que há perigos mais ou menos compreensíveis e que se está numa cidade que baralha o seu potencial imenso com a impunidade mais displicente e a injustiça social mais esdrúxula (passe-se o lugar-comum). Por isso, e por tudo o resto que não se consegue explicar de África, é que sair pela primeira vez para fora do portão de casa, sem protecção ou companhia que dissuada avanços menos bem-intencionados, sabe a feito heróico e a liberdade nova.
Os passeios das ruas são trôpegos e obrigam a pequenos slaloms para evitar buracos e os restos de vida que todos acabam por deitar para o chão. Atravessá-las, às ruas, faz lembrar aqueles jogos de computador de plataformas, em que tem de se aproveitar o segundo exacto antes de passar o próximo jipe. Pouco importa, porque o ar morno que nos circunavega o arquipélago do corpo e da alma empurra-nos suavemente para a frente, reeditando o prazer dos primeiros passos e letras.
Não tardou a chegar a esquina que tinha descoberto horas antes, quando passei de carro e ar condicionado, recortada por mulheres e frutas nas bacias. Quando parei, rodearam-me todas, as frutas para que as cheirasse, as mulheres sorridentes e carinhosas para convencer a comprar as mangas que, ou eram grandes ou eram sem fios, as bananas mais maduras ou mais rijas, os mamões, os cajús, os maracujás... Não há balanças e a fruta quase nem é bonita. Hoje trouxe mangas e bananas e disse-lhes que voltava amanhã para comprar mais, se aquelas fossem boas. Garantiram-me que sim.
Voltei para casa devagarinho, atrasando aqueles metros de conquista que já trazia comigo do caminho de ida, prolongando de promessas a minha vontade de derivar os passos. As mangas, mornas como o ar daqui (quando não sufoca), chegam à língua como uma espécie veludo macio e áspero e são - não é difícil imaginar - as melhores que já provei.
Os passeios das ruas são trôpegos e obrigam a pequenos slaloms para evitar buracos e os restos de vida que todos acabam por deitar para o chão. Atravessá-las, às ruas, faz lembrar aqueles jogos de computador de plataformas, em que tem de se aproveitar o segundo exacto antes de passar o próximo jipe. Pouco importa, porque o ar morno que nos circunavega o arquipélago do corpo e da alma empurra-nos suavemente para a frente, reeditando o prazer dos primeiros passos e letras.
Não tardou a chegar a esquina que tinha descoberto horas antes, quando passei de carro e ar condicionado, recortada por mulheres e frutas nas bacias. Quando parei, rodearam-me todas, as frutas para que as cheirasse, as mulheres sorridentes e carinhosas para convencer a comprar as mangas que, ou eram grandes ou eram sem fios, as bananas mais maduras ou mais rijas, os mamões, os cajús, os maracujás... Não há balanças e a fruta quase nem é bonita. Hoje trouxe mangas e bananas e disse-lhes que voltava amanhã para comprar mais, se aquelas fossem boas. Garantiram-me que sim.
Voltei para casa devagarinho, atrasando aqueles metros de conquista que já trazia comigo do caminho de ida, prolongando de promessas a minha vontade de derivar os passos. As mangas, mornas como o ar daqui (quando não sufoca), chegam à língua como uma espécie veludo macio e áspero e são - não é difícil imaginar - as melhores que já provei.
11 comments:
estás sentada a escrever isto, ainda com o mesmo sorriso que tinhas no mercado :)
é mete-nojo, é. mas sabe bem ler-te assim, enfiada aqui, na inveja do vento a rondar as janelas. outra vez.
E os mamões? Serão tão bons como no Brasil?
Com uma ventania tão boa e umas bátegas de chuva tão apetecíveis - a temperatura é que não perdia nada se descesse meia dúzia de graus - por cá, e há gente que vai para sítios onde o bafo do demo sopra...
só se pode gostar deste tempo se não se for obrigado a viajar todos os dias com milhares de idiotas de chapéu de chuva, ou subir a duclólé através de outras centenas de idiotas armados com chapéus de chuva.
Eu estava com receio de vir ler as memórias de Angola... Já sabia, cabrona mete-nojo!;D
Despacha-te a voltar, tens muito trabalho à tua espera, não se pode andar sempre no bem-bom! >:>> 8D
Bom Ano!
Bom regresso, as mamãs da Salvador Allende e todo o Maculusso vão sentir a tua falta.
:*
E pronto, já não há calorzinho, nem zungueiras, nem ruas com nomes maravilhosos, nem essas peles fantásticas ou frutas a escolher-nos.
Amanhã é que vão ser elas...
Mamões não experimentei. Não são a minha fruta, mas que tinham bom aspecto, isso tinham.
Bem-vinda :-)
(temos umas chávenas iguais a essa que aí aparece, lá em casa!)
E figos? Eu gostava imenso dos figos. Mas não eram figos iguais aos de cá (da Metrópole). Aliás, nem sei porque se chamavam figos. Uma delícia!
Obrigada, Lia. Estou a recuperar o contacto.
Eu não gosto nada de figos, F. Vi, para além das mangas e das bananas, cajú, mamão e maracujá. Só mesmo se alguém me tivesse dito algo do género: "Tens de experimentar, não tem nada a ver com os figos normais!" é que eu me aventurava. Não experimentei montes de coisas, nomeadamente a caipirinha de maracujá. Mas o melhor de deixar coisas para ver e fazer nos sítios é que nos aguça a vontade de voltar. Assim seja.
no brasil, a fruta mesmo da que não se gosta muito, devora-se.
é maravilhosa.
e esta semana, uns viajantes que lá voltaram trouxeram-me mangas, papaia, maracujás... a casa tem um perfume daqueles :)
percebo-te.
beijos!
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