May 31, 2011

(não) temos pena

Ou então temos, mas nem parece.

Já se esgotou este modelo, esta coisa das campanhas eleitorais, com as agendas, as palavras de circunstância, as circunstâncias sem palavras, os pormenores sórdidos, as cores das gravatas, os assessores de imagem, a previsibilidade, os crops nas imagens famintas de parecerem muitas, os cronómetros a correr e ninguém a aprender, os planos adequados, a falta de imaginação de quem finge que dá, os formatos de durante e os disformes do depois, as sondagens cheias de números que oscilam num faz-de-conta diário e extenuante, o povo que ali está pelo movimento.

Às vezes ocorre-me que, numa linha de tempo, o que havia de humano nos humanos ficou lá, nos idos do século XX. Nos de 2000, tudo é como devia ser, todos sabem as regras ou que existem regras. No mundo convencional da política, não há jogadores fora de jogo e todos os jogos são longos e penosos prolongamentos, sempre iguais, sempre de acordo com as normas. Aqui o jantar é sopa todos os dias, tem cada vez menos legumes e este não é um eufemismo da crise.

Ou como li daqui, numa citação de Tiziano Terzani (Disse-me um Adivinho)

Todos nos devemos perguntar — e sempre — se aquilo que estamos a fazer melhora e enriquece a nossa existência. Ou será que, devido a qualquer deformação anormal, todos perdemos o instinto em relação àquilo que a vida deveria ser, ou seja, mais do que tudo um momento de felicidade?

2 comments:

Pedro said...

E para lá disso parece que é sempre o medo, a incapacidade de por o pé do outro lado da linha, de falhar a experiência, de cair no ridículo...

menina alice said...

Pois, para serem sempre certinhos, dentro do cânone estabelecido.