January 10, 2008

ainda (e durante muito tempo ainda) a Lei do Tabaco

Mais um texto com o qual concordo na quase globalidade, excepto na parte do boicote aos restaurantes cobardolas: por um lado, como ex-fumadora (lamento a perspectiva egoísta, mas é também disto que se trata), tudo o que for espaço que não me excite a memória olfactiva, agradeço em humildade e, por outro, há restaurantes essenciais dos quais não prescindirei a menos que a cozinha mude para pior ou as condições de higiene me deixem dúvidas. Posto isto, reproduzo abaixo o texto do Francisco José Viegas, na Origem das Espécies (com foto e tudo, que é como fica bonito).

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||| Smoking, no smoking.



O Pedro Boucherie escreve no Atlântico um texto que me merece apoio: «Sou livre de gostar da lei do tabaco.» Tal como se tem referido neste blog, a lei encontra-se no limite do razoável e não é caso para tanta gritaria. Vamos e venhamos, a lei garante uma boa margem de liberdade de escolha (hoje almocei num civilizadíssimo restaurante, de preços muito moderados, para fumadores) e, graças aos seus buracos, estrategicamente não regulamentados, permite algum bom-senso.
Desde o princípio desta discussão tenho afirmado o meu apoio a esta lei; não ao proibicionismo higienista, que seria a intenção inicial, quando «o legislador» pensou em banir o tabaco de todo o espaço público. Evidentemente que a reacção imediata foi suscitada mais pelo ar evangelizador e pelo radicalismo da DGS e das autoridades, do que pela própria lei; como se vê, há espaços suficientes para fumadores poderem sentar-se confortavelmente a saborear a sua cigarrilha digestiva, se é esse o problema.
Chegámos a isto, aliás, pela absoluta falta de respeito pelas leis existentes. As leis de 1968 em diante, até à década de oitenta (e creio que de noventa) faziam supor já a interdição de fumar em certos espaços públicos. Era sensato. Na maioria absoluta dos casos, era imprescindível: escolas, lojas (excepto de tabacos, evidentemente), hospitais, recintos desportivos fechados, etc, etc, etc. Estava tudo lá, muito bem legislado. Mas não se cumpria, como é habitual. Aliás, esta lei actual veio apenas acentuar aspectos que já existiam nas leis anteriores, acrescentando os espaços de restaurantes e bares, onde, mesmo assim, garante uma certa liberdade de escolha.
Proíbe-se o fumo nos centros comerciais? Não me choca. Talvez passe a haver menos gente, não é mau. Proíbe-se o fumo nos transportes públicos? Já estava proibido antes, e a excepção era a magnífica carruagem de fumadores no Porto-Lisboa-Porto da CP, que desapareceu em Dezembro. Nos aeroportos? Mas é assim em todo o lado, e em Portugal há algumas áreas para isso.
Proíbe-se o fumo nos locais de trabalho? Confesso que não é assustador. Na redacção da Grande Reportagem, onde éramos uma dúzia, chegámos (70%, faço agora as contas, eram fumadores), por auto-regulação, a interditar o fumo porque duas colegas nossas estavam grávidas e um sofria de gripes e sinusites permanentes (o desgraçado). Vínhamos ao corredor, paulatinamente, periodicamente, conversar uns com os outros. Como fumador, não gosto de incomodar os não-fumadores com o cheiro do tabaco, que lhes pode ser desagradável. Dormir com cheiro de tabaco, não acho suportável. Nem acordar. E estou disposto a vir fumar para a rua de vez em quando.
Fumar é um prazer de civilização que não deixo que mo roubem. Mas não estou disposto a vulgarizá-lo apenas por causa do fundamentalismo anti-tabagista que quer vulgarizar a limpeza da espécie.
Publico esta lista de restaurantes onde se pode fumar (e que começou por ideia do Manuel Alberto Valente, e que ele continuará) porque acho que nenhuma lei nos pode proibir de fumar. Os restaurantes cobardolas, que se transformaram em não-fumadores para ver se pegava, não têm sorte comigo. A maior parte deles podia garantir a opção de fumar, podia garantir a convivência entre fumadores e não-fumadores, podia investir um pouco; mas era mais fácil lixar o cliente. Não querem? Pois que se lixem. Apelo ao boicote. E, em alguns casos, à campanha contra a sua indelicadeza.
De resto, espero que o bom-senso regresse, que os restaurantes cobardolas se envergonhem, depois das bravatas de uns pelotões da PSP e da GNR que foram chamados para apagar cigarros. E que o mundo seja assim: fumadores (que devem ser alertados para os males da cigarrada) fumam onde é permitido; não-fumadores não fumam. Talvez seja o melhor método.

(A foto da Laureen e do Humphrey foi roubada ao Terceira Noite, directamente.)"

Acrescente-se e saliente-se ainda, do mesmo blog, o serviço público do Guia de Visitas, uma lista em permanente actualização de restaurantes onde se pode fumar.

2 comments:

Henrique Dória said...

Esses democratas unidos contra a lei do tabaco, desde Miguel Sousa Tavares ao seu amigo dileto Vasco Pulido Valente não se importam de lixar a saúde e incomodar o visinho. O que não aceitam é que a democracia vá contra o que lhes dá prazer.
Já agora sugiro um outro prazer: uma visita ao odisseus.

Anonymous said...

Ser um fumador é igual a ser um toxicodependente em nicotina. Assim, posso concluir que um fumador é um doente, uma vez que EM PORTUGAL SE CONSIDERA A TOXICODEPENDÊNCIA UMA DOENÇA.

Nesta conformidade considero imoral o valor do imposto sobre o tabaco, recentemente aumentado em mais 10%.

Os doentes (toxicodependentes) são obrigados a pagar elevadíssimas taxas, muitas vezes com prejuízo das necessidades básicas do fumador.

Os viciados (incluindo os tabágicos) optam em geral por comprar um ou dois maços de tabaco e comer simplesmente uma "sandes" em vez de tomar um almoço ou jantar em condições.

Seria mais coerente com as políticas agora adoptadas que se fechassem as tabaqueiras e se combatesse a venda do tabaco, como se faz com as outras drogas.